Tempos de Incerteza - Opinião de Francisco Calheiros

Tempos de Incerteza - Opinião de Francisco Calheiros

Nunca pensei estar a escrever este artigo em plena guerra no coração da Europa. Queria muito que estas linhas fossem recheadas de confiança, sobre o virar de página da pandemia e sobre a retoma do Turismo.

A boa notícia é que a página da pandemia está mesmo a virar. A péssima notícia é que a página que se segue está marcada por aquele fatídico dia 25 de fevereiro, em que acordámos com a palavra que menos gostaríamos de ver estampada nos ecrãs da televisão, ouvir nas vozes da rádio e ler nas capas dos jornais: Guerra! Por isso, nestes dias, os sentimentos que todos temos são a extrema preocupação, os grandes receios e sobretudo a incerteza.

Há bem pouco tempo, todos pensaríamos que a BTL deste ano, o maior evento de Turismo em Portugal, iria estar marcada pelo início decisivo da retoma desta estratégica actividade da economia nacional. Porém, a actual conjuntura impede-nos de traçar estratégias e cenários no médio ou longo prazo.

É imprevisível a dimensão das consequências desta guerra no coração da Europa. Mas de uma coisa temos a certeza: o Turismo, as empresas e toda a economia vão sofrer os danos colaterais de uma guerra de que ninguém estava à espera. Até que nível vamos sofrer? Isso é também, por agora, uma incógnita.

Mas não devemos perder a esperança. Temos de continuar a acreditar que melhores tempos virão, incluindo para o Turismo.

A edição deste ano da BTL pretende apresentar inúmeras novidades na inovação, no enoturismo, no turismo de natureza e na cultura, assim como novas tendências, serviços e produtos nacionais e internacionais no setor do turismo, e por isso, a BTL deve ser um certame onde o Turismo debata também estes novos tempos de incerteza, para que preparemos as novas respostas que iremos ter de dar aos novos desafios que enfrentamos.

Não tenho dúvidas que as pessoas estão ávidas em viajar, depois de quase dois anos impedidas de o fazer em total segurança sanitária e sem medidas restritivas. As pessoas querem mesmo voltar a ter a sua liberdade de conhecer novos destinos, novas culturas, novas gastronomias, novas paisagens. E Portugal tem tanta diversidade para oferecer! Por isso, não podemos deixar de nos promover como um País turisticamente atraente e seguro, porque acredito que a vontade e necessidade das pessoas em viajar, em manter as suas férias, em continuar uma vida o mais normal que lhes seja possível, será uma realidade neste Verão. Há, no entanto, factores que continuam a ser essenciais e têm de ter progressos práticos.

Desde logo, os apoios financeiros que como temos vindo a dizer insistentemente, continuam na gaveta e têm de chegar às empresas. Se já eram necessários devido à pandemia, agora ainda passaram a ser mais importantes para ajudar as empresas a enfrentarem as consequências do actual período de guerra. Se o País quiser voltar a ter uma actividade turística forte, continuando a ser um dos motores da economia, é necessário ter empresas robustas, financeiramente fortalecidas para investirem, criarem emprego e reforçarem a sua oferta para responder à maior procura que todos acreditamos ainda virá a ser uma realidade. Por outro lado, e com o objectivo de termos empresas mais fortes para enfrentar os novos tempos de incerteza que vivemos, deve o Governo avançar com uma redução da carga fiscal para que as empresas tenham condições para voltarem a investir e criar emprego.

É também muito importante que seja tomada uma decisão final sobre a construção do novo aeroporto na região de Lisboa. Esta é uma das infraestruturas mais necessárias para o desenvolvimento do país e se a expectativa é que o Turismo regresse a índices de crescimento pré-pandemia, não haverá como dar cabal resposta a este crescimento se um aumento da procura do destino Portugal não for acompanhado por infraestruturas que respondam a essa maior procura.

Volto ao início. Nunca pensei estar a escrever este artigo em plena guerra no coração da Europa. Depois da pandemia, um conflito bélico era o que menos o Turismo precisava. Mas não quero perder a esperança. A paz há-de imperar e a retoma da actividade turística virá a ser uma realidade.

21 Março 2022