8º Fórum de Turismo Interno | Tomar, 7 de Junho - Discurso Francisco Calheiros
Exma. Senhora,
Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços
Engª. Rita Marques
Exmo. Senhor,
Presidente da Câmara Municipal de Tomar,
Dra. Anabela Freitas
Exmo. Senhor Presidente do Instituto Politécnico de Tomar
Dr. João Freitas Coroado
Exmo. Senhor,
Presidente do Turismo Centro de Portugal
Dr. Pedro Machado
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Antes de mais, uma palavra de agradecimento ao Presidente do Turismo Centro de Portugal, Dr. Pedro Machado, pelo amável convite para vos proferir umas palavras neste que é sem dúvida o Fórum por excelência de discussão sobre o Turismo Interno em Portugal.
Um agradecimento também à senhora Presidente da Câmara Municipal de Tomar e a esta cidade que tão bem nos acolhe sempre.
Estarmos aqui hoje em Tomar é um bom exemplo de como o Turismo em Portugal tem de ser descentralizado dos seus tradicionais destinos e que temos de apostar no Turismo Interno.
Todos sabemos que enfrentamos hoje novos desafios a que o Turismo se tem de adaptar: pandemia, guerra, instabilidade económica, um mundo cada vez mais digital e alterações climáticas fazem parte atualmente de um novo mundo, que está também a alterar aquilo que os turistas querem em termos de viagens e estadias.
Por isso é tão importante debatermos as novas tendências dos comportamentos dos turistas, assim como a necessidade de novos produtos turísticos que respondam às novas necessidades não só de quem nos visita, mas também dos portugueses que viajam dentro do país.
O Turismo interno está sem dúvida em crescimento. Nestes anos de pandemia, o mercado nacional revelou-se, uma vez mais, essencial para o Turismo português.
Os dados relativos à última Páscoa e as perspetivas para o Verão deste ano, confirmam que há mais portugueses a optar por fazer férias no país, escolhendo não só os destinos tradicionais, mas querendo também conhecer outras regiões, cidades e locais que não eram tradicionalmente considerados destinos turísticos.
Mas a realidade mudou. Devido à pandemia, os portugueses, por maior segurança, optaram por viajar mais cá dentro e muitos confirmaram a grande diversidade que Portugal tem para oferecer.
É para esta nova tendência que temos de olhar, pelo que devemos reforçar a estratégia de criação de novos produtos turísticos em todas as regiões do país, até mesmo criar novos produtos que se dirigem a nichos de mercado, mas nunca esquecendo os produtos de Turismo tradicionais em Portugal, que continuam, logicamente, a ter uma elevada procura.
O comportamento e as expetativas das pessoas mudaram com a pandemia, e por isso mudou também a forma como viajam e o Turismo que querem, pelo que todos os intervenientes da atividade turística devem conhecer as
novas tendências, para antecipar respostas e corresponder às necessidades do novo turista.
E este novo perfil de turista tem outras características bem vincadas, como a sustentabilidade e as novas tecnologias.
Nos dias de hoje, para captar turistas, é fundamental cumprir critérios de sustentabilidade. O viajante atual, especialmente a geração mais jovem, prefere gastar dinheiro em produtos e experiências amigas do ambiente.
De acordo com os dados mais recentes de vários estudos, mais de 70% dos consumidores até estão dispostos a pagar mais pelo Turismo sustentável. E esta é também uma realidade que o Turismo interno deve ter em conta.
Mas há mais uma importante mudança a que temos de estar atentos. As novas tendências tecnológicas já começaram a moldar o Turismo e a digitalização no setor das viagens é já uma realidade e uma necessidade.
A automatização e a digitalização da atividade turística são áreas chave e deverão ser um investimento fundamental, porque a pandemia fez acelerar a transição tecnológica da indústria das viagens, devido à necessidade de responder
ao que os clientes começaram a procurar: mais experiências personalizadas e digitalizadas.
Veja-se como a escolha de uma viagem é feita hoje em dia na internet. Por outro lado, hoje a partilha da viagem nas redes sociais é algo já comum, pelo que uma boa ou má experiência podem agora, mais do que nunca, ser expostas através das redes sociais.
A digitalização está a fazer mudar o Turismo tradicional tal como o conhecemos, por isso, os profissionais do Turismo têm de seguir as tendências tecnológicas para se manterem competitivos.
Todas estas novas tendências a que o Turismo se tem de adaptar têm de ser seguidas quer no âmbito do Turismo interno, quer quando falamos na captação de Turistas estrangeiros. Porque o turista, seja português, seja de outra nacionalidade, tem atualmente, em geral, as mesmas expetativas que quer ver cumpridas quando escolhe um destino para viajar.
Mas para que o Turismo interno cresça de forma sustentável, é também necessário que se olhe para a promoção de forma estratégica, quer em relação a promover cada região, como a promover o país num todo lá fora.
Por outro lado, há que continuar a trabalhar na melhoria do funcionamento e da articulação entre todas as entidades e as tutelas que interagem com o Turismo.
Minhas Senhoras e meus senhores,
Estamos à porta de mais um Verão. Eu estou otimista que a época alta de 2022 vai confirmar que este ano o Turismo irá superar os números de 2019.
Segundo os últimos dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), a recuperação das viagens aéreas é já uma realidade e os últimos dados do INE confirmam a tendência: em Abril, o mês em que se celebrou a Páscoa, a atividade turística ultrapassou os níveis de 2019.
O alojamento turístico registou 2,4 milhões de hóspedes e seis milhões de dormidas em Abril. Mais 1,6% e 1,1%, respetivamente, face aos números homólogos de 2019.
Isto são sem dúvida muito boas notícias!
E, sinal dos tempos, de salientar que os dados de Abril continuam a confirmar a subida do Turismo Interno, sendo que o número de turistas portugueses a viajar em Portugal até subiu mais que o do número de estrangeiros a dormir no nosso País. Face a abril de 2019, o mercado interno cresceu 15%, mas os mercados externos caíram 4,4%.
Estes dados demonstram bem a importância crescente do Turismo Interno e a necessidade de olhar para o turista português que faz Turismo cá dentro de uma forma estratégica e consolidada.
Na verdade, estes dados do INE relativos a Abril são sinais positivos. E como se espera uma época de Verão com ocupações hoteleiras perto dos 100%, acredito que ainda este ano conseguiremos superar os números do Turismo de 2019, aquele que foi o melhor ano do Turismo em Portugal.
Mas apesar deste otimismo, não podemos esconder que o Turismo enfrenta ainda problemas que têm de ser resolvidos o quanto antes:
Um deles é a capitalização das empresas, um fator essencial para o futuro próximo.
É necessário que as ajudas públicas, há tanto tempo prometidas, saiam do papel e cheguem à economia real, nomeadamente às empresas, que tão descapitalizadas ficaram desde a pandemia.
Os empresários do Turismo têm demonstrado uma grande resiliência e querem continuar a investir e a criar emprego. Mas precisam de apoios no imediato e não apenas as ajudas que têm estado a ser acionadas a conta gotas. E as empresas necessitam também que o Governo reveja a política fiscal e reduza a pesada carga de impostos.
É preciso não esquecer que as empresas estão a sofrer não só com a pandemia, mas também com as consequências económicas da guerra, como o aumento da inflação ou o aumento dos preços da energia e dos combustíveis.
Por outro lado, tem de se encontrar soluções para o grave problema da falta de mão de obra no Turismo, que deve passar por o Governo agilizar o processo de vistos para a entrada em Portugal, porque sem dúvida que uma das soluções passa por recorrer a profissionais de outros países, por exemplo dos PALOP. É que está provado que não será possível satisfazer a necessidade de mão de obra recorrendo apenas a soluções internas.
É urgente também resolver os problemas que afetam o Serviços de Estrangeiros e Fronteiras para evitar que se repitam neste Verão as situações lamentáveis a que assistimos no fim de semana de final de Maio no aeroporto de Lisboa, com passageiros de voos internacionais de fora da Europa a terem de esperar várias horas no controlo dos passaportes. Definitivamente, não é esta a imagem do País turístico que queremos transmitir lá fora.
Queremos passar a imagem de um país cheio de diversidade, seguro em todos os sentidos, mas também que tem as infraestruturas e as condições necessárias para receber um número crescente de turistas.
E para que isto seja uma realidade, é urgente que se tome uma decisão final, nesta legislatura, sobre a construção do novo aeroporto na região de Lisboa.
Se o mundo está a mudar, o turista também, e tem hoje novas necessidades e novas perspetivas do que é viajar. Por isso, temos todos de nos adaptar, a começar cá dentro. Porque não tenhamos dúvidas que o Turismo interno está em crescimento, mas também está diferente.
Se nos adaptarmos à mudança, se continuarmos resilientes, se as entidades oficiais colocarem o Turismo nas suas opções prioritárias e se aproveitarmos as oportunidades, ganhamos todos e ganha o País.
Como já dizia Winston Churchill:
“O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade.
Já o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”.
E eu sou um otimista!
Muito Obrigado!
08 Junho 2022