Tendências: A Inteligência Artificial e as mudanças no Turismo
Segundo a McKinsey, o Turismo será uma das áreas em que o uso da inteligência artificial terá o maior impacto. Constata-se historicamente que, ao longo do tempo, foi o sector que mais rapidamente adoptou novas tecnologias, o que possibilitou rápidos crescimentos. Em conferência proferida na Fórum TurisTIC, em Barcelona, Lasse Rouhiainen, especialista internacional na área das tecnologias de informação, indicou que: “A inteligência artificial constitui a chave para sair desta crise que o Turismo atravessa, como ficou recentemente demostrado pelo rápido desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19, ou pelo seu uso em muitos aeroportos para gerir o fluxo de passageiros, ou até noutras áreas, como no rastreio de tratamentos contra o cancro.
A questão principal e anterior a esta adopção passa pelo tecido empresarial do Turismo que assenta essencialmente em PME's que passam pela necessidade de se centrarem na “transformação digital e digitalização dos processos de negócio, embora se encontrem em diversificados e diferentes níveis de transformação. No entanto, sem uma estratégia voltada para o plano digital, dificilmente irão sobreviver. As estatísticas deixam de ser dados de avaliação de desempenhos passados para passarem a constituir dados inteligentes com potencial futuro. Dentro de poucos anos, a evolução aponta para um mundo de algoritmos, que devem ser controlados e participados por todos, uma vez que é importante que não nos esqueçamos que podem ser perigosos, por isso temos que os criar e gerir de forma correcta na Europa. Este especialista indicou ainda que esta tecnologia não será só do domínio das grandes corporações dado o crescimento do denominado “low code”: interfaces que permitirão criar inteligência artificial com pouquíssimos conhecimentos técnicos, sem a necessidade de se dominar e conhecer programação ou codificação. Por isso, é muito importante focar a formação em Turismo no aproveitamento do potencial deste tipo de código para que todas as PME e os trabalhadores possam participar nesta evolução”.
Na verdade, já existem plataformas de “código de nível baixo” como a da Microsoft, “com sistemas pré-determinados aplicáveis a cada caso e que qualquer um poderá usar ou aplicar. Os sistemas em nuvem também estão disponíveis, permitindo que a tecnologia se torne ainda mais democratizada à medida que se evolui neste sentido e, portanto, seja mais acessível a mais pessoas".
Não é uma surpresa o desenvolvimento da inteligência artificial (IA), mas este enfrenta certos riscos no presente e que devem ser acautelados em termos futuros. Entre eles destacam-se as actuações a este nível sem que o cidadão se aperceba; potenciais violações de privacidade; além de possíveis distorções e até discriminações. "Para evitar estas situações devemos fixar como objectivo primordial 'beneficiar o ser humano', pelo que deve ser imposta uma transparência algorítmica, com explicações compreensíveis para todos; algoritmos que preservem a privacidade, não sendo possível vender dados, mas criar cooperativas de dados; e justiça algorítmica”.
Este especialista deu como exemplos dessa inteligência artificial ética o plano AI Register, que rege a transparência algorítmica criada em Helsínquia há quatro anos; O meu modelo de dados, o sistema em vigor em toda a Finlândia através do qual o utilizador é quem dá permissão para usar os seus dados e mostra-se ou não disponível à oferta de produtos e serviços ajustados ao seu perfil; plataformas Traveller que combinam IA com Blockchain; e a plataforma Fetch.ai Autonomous AI Travel Agents , com a qual os dados do utilizador permanecem somente no seu telemóvel, possibilitando a ligação directa ao fornecedor, sem a necessidade de recorrer a intermediários.
A Internet, segundo Rouhiainen, "tem sido usada até agora como veículo de informação, mas agora o seu papel na área do marketing ganhará força e expressão (não é por acaso que o marketing actual está a aproximar-se das neurociências), porque não precisaremos mais de intermediários". As previsões deste especialista apontam para que “em dois anos plataformas como o Facebook ou o YouTube terão tendência para desaparecer, e a Booking.com passará pela mesma perspectiva pouco tempo depois, porque o software permitirá que exista um relacionamento directo entre o hotel e o cliente (facto este que tem sido noticiado nos últimos meses, com o crescimento acentuado de clientes que reservam directamente com as unidades de alojamento e transporte aéreo). Através da correcta utilização da inteligência artificial, nenhum intermediário será necessário".
No mesmo período, o especialista avançou que “novos produtos e serviços surgirão graças à inteligência artificial que nos permitirá inovar para alcançar um Turismo mais sustentável baseado nos cidadãos e nos turistas; enfim, em seres humanos e não somente sermos considerados como actualmente simples algoritmos”. Para isso, é necessário “mais apoios para a transição digital nas grandes e pequenas empresas, mais investimento em formação, e mostra-se imprescindível a actualização da legislação em vigor, não só para facilitar o investimento em startups e assim poder criá-las no espaço europeu, tornando-nos mais independentes em termos globais, mas também, proteger os consumidores quanto à privacidade dos seus dados”. O futuro do Turismo passa pela personalização 100% sustentada pela inteligência artificial. Esta personalização através da IA tem grande potencial de desenvolvimento, mas requer também muita formação. O futuro pertence aos micro nichos de mercado que beneficiarão directamente desta personalização.”
23 Junho 2021