Francisco Calheiros: “Temos grandes dúvidas” de que o verão de 2021 seja melhor do que o do ano passado

Francisco Calheiros: “Temos grandes dúvidas” de que o verão de 2021 seja melhor do que o do ano passado

Em entrevista ao Jornal de Negócios, Francisco Calheiros, Presidente da CTP, pede previsibilidade às medidas do Governo e teme agora que o verão de 2021 possa ser pior do que o de 2020.

Perante o agravamento da pandemia, ainda é realista falar em “salvar o verão”?

O verão já não é salvo, ponto final. Começámos esta pandemia em março do ano passado e o setor do turismo foi, de longe, o mais afetado de todos. Tivemos enormes dificuldades no verão passado. Havia fundadas esperanças de que este verão fosse completamente diferente. Já estávamos com mais de um ano de pandemia, a vacinação começava a ser uma realidade, havia esperança de imunidade de grupo, mas nada disso aconteceu.

O encerramento de corredores aéreos não ajudou.

Quando abrimos o mercado britânico e passados 15 dias fechamos, o que os agentes do setor andam a fazer é confirmar reservas para depois as cancelar. Aconteceu com o mercado alemão, francês, etc. O verão de 2021 será novamente um mau verão, claro que nunca chegará aos níveis de 2019.

Mas será melhor do que no ano passado?

Neste momento temos grandes dúvidas de que possa vir a ser.

As mais recentes medidas de controlo da pandemia como a utilização do certificado digital ou de testes para aceder a restaurantes e estabelecimentos hoteleiros pode prejudicar o turismo de portugueses no Algarve?

Vai sempre afetar, até pelas medidas restritivas em vigor. Quando vamos de férias queremos andar à vontade, jantar fora até à hora que quisermos. E tudo isso está um bocado prejudicado quer pelas restrições impostas, quer por algumas dúvidas que existem. Preciso ou não de certificado para ir ao restaurante? E os meus filhos? Todos sabemos que o turismo implica deslocação e as medidas restritivas condicionam e muito. Não estão criadas condições ideais para fazer turismo.

Como avalia as mais recentes medidas adotadas pelo Governo para conter a propagação da covid-19? 

Não nos compete tecer comentários sobre as medidas sanitárias decididas pelo Governo. Mas podemos, e devemos, exigir ao Governo que as medidas sejam mais claras, mais transparentes, e, sobretudo, que sejam mais atempadas. Não se pode estar a anunciar medidas de quinta para sexta-feira.

E quanto às medidas de apoio às empresas do setor do turismo que estão em vigor, o que tem a dizer?

No início as medidas foram positivas, nomeadamente as específicas para o turismo e as do lay-off, mas essas medidas estão esgotadas e ultrapassadas. O Governo apresentou há mais de um mês o PRT (Plano Reativar o Turismo). Esta sexta-feira vamos reunir-nos com o Governo e temos enorme expectativa sobre o que será apresentado. É urgentíssimo que as medidas saiam do papel e cheguem à economia de forma rápida e pouco burocrática porque, ao fim de mais de um ano de pandemia, as empresas estão completamente esgotadas.

Houve algum aumento de cancelamentos de reservas desde a semana passada?

Não tenho números, nem ninguém tem. Não temos é dúvida nenhuma, porque todos os dias estamos em contacto com os nossos associados, de que cada vez que há uma medida mais restritiva, ou o fecho de um corredor turístico, temos imediatamente bastantes cancelamentos.

A situação pode piorar?

Quanto mais se fechar e restringir, pior fica a situação, e aumentam os cancelamentos.

 

Não estão criadas condições ideais para fazer turismo (...). Não se pode estar a anunciar medidas de quinta para sexta-feira.

Francisco Calheiros, Presidente da CTP

15 Julho 2021